Realizo a metáfora da fome.
Meu corpo é pão e água à espera de
colheita.
Uma brisa cinzenta ocupa o instante
de quando o céu de azul se tinge
e o sol decresce às águas,
guiado pela cor de abelhas
ante o som novembral das confidências
segredadas ao meu olho.
Imagens moram baças.
De tanta luz desfeita, úteros
se ocultaram em nascimentos fúlgidos.
A densidade do choque se equilibra
pela transparência do estômago, no soco.
Minhas ventas têm mania de seguir o
zênite
aos sonoros acordes quando dezembram.
Meu olho vai... deita-se largo em camas
cegas,
carrega o rumor do tempo em asas feito
flechas
desde o ritmo cadente do disparo ante o
bravo
amparo do colo, despido em carne, caule
e flor.
O murmúrio me alarga e se alastra pelo
dorso
até o liquefeito azul de deus. Entes
voantes
polinizam os sussurros, cravam dentes
nos pés
erguidos aos muros de escanteios
visuais
para, num sono de metáforas
desguarnecidas,
meu olho ouvir o cântico outonal de vozes
fontes
e servir de plantio ao gosto da terra
incrustado no desejo de ser horizonte.
Fábio Santana Pessanha
Referência:
BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010, p. 285.
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