31 de outubro de 2008

Diálogo com o poema "Antropofagia delirante", de Virgílio de Lemos

Entre os dias 6 e 10 de outubro deste ano, participei do V Congresso de Letras da UERJ-FFP. Neste evento, apresentei a comunicação intitulada "O percurso antropofágico-delirante de uma interpretação", que trabalha obviamente a questão da interpretação em um poema do poeta Virgílio de Lemos.
Abaixo segue um resumo mais que expandido sobre o texto que apresentei e que logo será publicado na íntegra:


O percurso antropofágico-delirante de uma interpretação em Virgílio de Lemos


Virgílio de Lemos nasceu na Ilha de Ibo. Ilha esta que integra o Arquipélago das Quirimbas, na costa norte de Moçambique. Como nos propomos a pensar sua poética, estaremos em diálogo com o pensamento ontológico acerca do homem, assim como com o desdobramento em questões como pátria (terra), língua, corpo, música, mundo entre outros.
Errante, multifaceta-se na cisão heteronímica, a saber: Duarte Galvão, Lee Li Yang e Bruno dos Reis, no entanto, aqui voltaremos nossa atenção ao ortônimo Virgílio de Lemos, em especial, ao poema “Antropofagia delirante”, assinado por Duarte Galvão. Dito vamos ao poema sem mais demora:

Antropofagia delirante

Mas qual o poeta que não tem,
incestuosa,
uma relação com a língua
qual a língua que não devora
o poeta?

É no meu canto que vives
é no meu corpo
que morres
meu Amor, meu sangue,
poesia.

quanto mais reinventas as sombras
da língua, as fugas,
mais outro será o sol
do desafio
quanto mais perto do absurdo
mais real:
vestígios da lama no teu
rosto. Mãos de Irreal.

Vagabundo, o silêncio
devora
a memória. Volúvel,
o coração
se compromete com
a palavra.

A língua é uma canção
que morre
se não lhe conheces o refrão
se não lhe dás a volta
e recomeças,
Livre.

A língua é uma canção
que assobias,
que devolves à memória,
sem artifícios, nua,
irreverente, outra
e tua.


Uma obra poética se apresenta de maneira singular e resguarda no seu dizer a manifestação do não-dizer, isto é, aquilo que essencializa nossa leitura e nos faz espantar (taumádzein) mediante a possessão de sua poeticidade. Oriundo do silêncio, o poema nos forma e se conforma estruturalmente. Não que haja uma relação de enquadramento entre sua construção e um paradigma prévio a ser confirmado, mas um encaminhamento que traz em si sua estruturação e seu próprio caminhar. Assim, um meio de nos aproximarmos de tal dinâmica seria perceber como ocorre a movimentação poética em sua própria disposição. Isto é, como singularmente a obra se dimensiona em seu operar e pronuncia um mostrar-se próprio.
Considerando o que fora acima dito, o poema em questão se apresenta em quatro movimentos, como veremos mais adiante. Estes são perpassados pelo o que o título reúne em si, então, comecemos por ele.
Antropofagia é composta por duas palavras gregas: o substantivo ánthropos e o verbo phagein. O primeiro termo significa homem e o segundo, ingerir, comer. Logo, comumente nos é informado o sentido dicionarizado de canibalismo, ou seja, o homem que ingere carne humana, que a leva para dentro de si (HOUAISS, 2001). Mas para qual encaminhamento tal relação nos leva? Que ingerir é este?
Este trazer para dentro de si é muito mais do que uma assimilação física, uma ingestão. Revela-nos a consumação, ou seja, um percurso de condução do homem à essência do que é na plenitude do vigor. É, portanto, a apropriação poético-originário do sendo humano.
Une-se ao substantivo antropofagia o adjetivo delirante. Este provém da palavra delírio, que significa numa primeira acepção as ilusões ou alucinações em função de alguma doença. Entretanto, delírio também nos diz o êxtase, o arrebatamento, o entusiasmo. O delírio é o que toma o poeta no vislumbre da physis e o lança na vertigem do apropriar-se, um salto abismal na procura de sua essência, uma devoração, conforme nos diz o poema. Exatamente, o poema inteiro nos diz isso e não só o título. Este atravessa todo o poema e retorna ao repouso daquilo que potencializa no desdobramento da obra.
Antropofagia delirante é o deslocamento incessante do convencional, na medida em que se consuma o ser no delírio da poiesis. E isto veremos no percurso dos movimentos.

Primeiro movimento: o devorar incestuoso da língua

O primeiro movimento vai do verso 1º ao 5º e é regido por uma pergunta. Mas o que tal pergunta questiona? Desde logo, somos colocados diante de uma ruptura. Ou seja, a quebra da inércia do já estabelecido é levantada quando, ao se questionar, insere-se uma nova perspectiva indicada pela primeira palavra do poema: Mas. E que contraposição é esta? Mais importante do que saber o que se contrasta, é perceber na caminhada o caminho que se faz. Se temos um Mas é porque, de fato, houve uma mudança e esta se configura em dois momentos: primeiro, pergunta-se pelo poeta; depois, pela língua.
Este primeiro movimento nos apresenta uma falsa situação de dicotomia entre “poeta” e “língua”, já que toda movimentação girará em torno destes dois pólos. Dizemos ser esta dicotomia falsa porque a palavra “incestuosa” acabará com tal oposição, na medida em que imiscui uma na outra.
O incesto que o poema traz diz respeito à relação íntima entre poeta e língua. Há uma proximidade tal que transborda os limites da individualidade de cada um. Poeta e língua se dão mutuamente num corpo. Um reclama pelo outro a ponto de não se saber quem é quem. Buscam o orgasmo como tentativa mortal de vida, um atravessamento contínuo sem determinação genérica, lembrando que orgasmo, do grego orgasmós, significa estar possuído de uma paixão violenta (HOUAISS, 2001). É a plenitude do corpo sendo radicalmente o que é na consumação do destino, a consagração ritualística do tudo é um heraclítico[1]. E o que é isto, senão o devorar?
O incesto é uma realização do devorar na proporção que o poema nos leva à indefinição de um ou de outro, por isso um movimento iniciado por uma conjunção adversativa Mas e finalizado com uma interrogação, avultando se tratar de um caminho incessante de questionamento.

Segundo movimento: o diálogo poético

Este movimento vai do verso 6º ao 18º e se difere do primeiro por, numa primeira instância, instaurar o diálogo com o leitor ao mudar a pessoa verbal. Subdivide-se ainda em dois outros: um está no trecho que vai do verso 6º ao 10º e o seguinte, do 11º ao 18º. No primeiro momento, percebemos o corpo poético vigente na dinâmica do ser (É) e da poesia (poiesis). Em outras palavras, o ser é o que está sendo nos entes, daí que cada homem é um corpo-sendo na vigência do agir primordial e originário da poiesis. Esta última palavra nos diz a ação. Poesia é ação enquanto permanência desdobrada em todas as mudanças, uma vez que tais mudanças são tanto as ações do homem em seu cotidiano (numa perspectiva metafísica de usufruto do sujeito) quanto sua apropriação destinal daquilo que é no estar-sendo. Ser e poiesis são um e o mesmo na proporção que deflagra a essência do homem enquanto permanência desapropriada da dicotomia cartesiana. É neste sentido não-dicotômico que podemos enxergar a relação entre vida e morte que o poema nos demonstra.
Viver e morrer não se opõem. A vida é um intervalo de morte, na medida em que a última é o vazio do qual emerge a efervescência do nascimento de uma existência. Então, podemos entender ser a vida um prazo poético de morte, uma vez que uma e outra se dão contínua e circularmente a cada espanto com o novo, pois a incerteza do que está por vir enquanto destino é o realizar-se ambíguo do homem na figura poética da liminaridade. Isto é, o homem é o ser-do-entre no qual o horizonte de sua vida abarca a mortalidade de sua limitação.
Nos versos (...) é no meu corpo / que morres (...), temos o corpo como aquilo que reúne. E o que é isto que reúne, senão o logos? Eis uma palavra cuja origem etimológica nos leva ao verbo grego legein, que significa, primordialmente, reunir e dizer. Sendo assim, o poema conclama os dois sentidos quando reúne no corpo a vida e a morte e se diz enquanto canto. Lembremos o 6º verso: É no meu canto que vives (...). Portanto, vida e morte são um e o mesmo no vigor da plenitude do corpo enquanto reunião e do canto enquanto doação da linguagem na presentificação da língua. A linguagem é o que nos atravessa e nos possibilita a fala, uma vez que quem fala não somos nós, mas o logos[2].
Em outro momento deste segundo movimento (v. 11º-18º), observamos uma evolução cíclica que aponta para uma dinâmica de ação e retraimento: quanto mais reinventas as sombras / (...) mais outro será o sol (...) / (...) quanto mais perto do absurdo / mais real. Isto é, o poema nos indica seu caminho em sua própria configuração. Comprovamos tal evidência ao percebermos nestes versos destacados algumas palavras essenciais: o verbo reinventar, por exemplo, do qual podemos depreender o sentido da contínua eclosão da essência na aparência. E o que é reinventado? As sombras! Estas nos dizem o mistério do não-saber, da não-ação, do silêncio. E mais, são (...) sombras / da língua, isto é, a língua como presença resguarda a excessividade da linguagem na não-fala. Esta, a linguagem, vela-se no falar da língua, portanto, resguarda-se nas sombras enquanto repouso hiperativo de doação incessante.
Quanto mais a língua se imiscui em sombras, mais o sol se manifesta sendo sempre (...) outro (...). E que sol é este? Eis (...) o sol / do desafio (...), aquele que desponta e realiza sempre outro horizonte. Assim, para que o sol seja outro, é fundamental que seja atravessado pela originariedade de ser continuamente a concretização do que, para brilhar, antes é necessário emergir das sombras. Da mesma maneira, os versos 15º e 16º nos evidenciam a tensão entre aquilo que faz desdobrar em cada mudança a permanência da verdade no sendo-ser. Neste sentido, a tensão é o que converge todas as divergências numa unidade complexa. Em outras palavras, o desdobramento do uno em dualidades mutuamente interpelantes, um ciclo infindo de ser e não-ser: quanto mais perto do absurdo / mais real.
Este movimento se encerra após uma suspensão simbolizada por um sinal de pontuação. Nesta dimensão, os “dois pontos” presentes no verso mais real: suspendem o andamento do atual movimento e retomam seu início ao convocar o corpo. Um corpo repleto de vida, transbordante de fisicidade na medida em que conjuga também o sentido orgânico, sem, contudo, se delimitar nesta ambiência biológica. Com isso queremos dizer que (...) teu / rosto é a deflagração da ação da poiesis em todas as coisas, ou seja, não é algo que está além da realidade como uma noção de fuga. Ao contrário, é a própria vigência da realidade se dando em cada ente na individualização do homem em seu habitar poético-real-ontológico. Também neste sentido, os vestígios da lama (...) são a efervescência da physis na dinâmica do real, doando-se continuamente em realidades concretas. Este concreto nos diz o concrescer, ou melhor, um crescer com, junto, uma vez que seja a vigência do vigente, a permanência. Então, tocar é sentir com o corpo, guardar para si a experiência do novo na consumação do destino (arché / telos) e é neste encaminhamento que as Mãos de Irreal irrompem na aproximação e plenitude poética do inaugural do humano. Em outras palavras, são o furor da realidade em todo e nenhum lugar como imanência poética e ambígua do real.

Terceiro movimento: a linguagem no silêncio da palavra

Dimensionado entre os versos 19º e 24º, neste movimento nos deparamos com dois verbos principais e essenciais: o devorar e o comprometer. O primeiro retoma não só os outros dois movimentos, como também o título, ou seja, um devorar que recolhe para si, que consome e consuma. O segundo se dá enquanto desdobramento poético-antropofágico do devorar, uma vez que traz em si o sentido de intimidade para além de uma con-formação.
O verbo comprometer intensifica e conclama o sentido de dar-se em corpo-vivo numa ação de ingestão poético-delirante. Comprometer é o penhor de ser em conjunto com aquilo a que se refere. Assim, mais uma vez, temos a orgia acontecente na semântica do não habitual. Orgia esta que reclama por corpos aórgicos, ou seja, poéticos, transbordantes de vida.
Ao averiguarmos a desmedida que propõem as questões em seus interstícios, observemos a palavra Vagabundo no verso 19º. Eis o sentido primeiro de errância ao qual o (...) silêncio se atém. Mas pode ser o silêncio errante? Pensar poeticamente o silêncio é se lançar na vertigem de uma apropriação contínua e inesgotável. O silêncio não tem medida, mas funda a medida em uma medição específica.
O silêncio não erra, mas é Vagabundo por estar em todas as coisas e em nenhuma delas. Mais ainda, é assim que ele devora numa realização de retorno à essência originária.
Tão pleno quanto o silêncio, o coração é volúvel, isto é, permanece em cada mudança, habita as lacunas. Lança-se no paradoxo de cada palavra enquanto queda vertiginosa na plenitude de ser. Por isso, comprometer-se com a palavra é sê-la enquanto corpo-vivo, enquanto língua vigente no silêncio e em seu velamento. Tal dimensão poética é retomada no último movimento deste poema, na medida em que a palavra se dá corporificada em língua viva que fala, canta e corresponde à linguagem. É a própria vigência do “sendo”.

Quarto movimento: a circularidade poética na pro-miscuidade antropofágica

Este movimento se dimensiona entre os versos 25º e 36º, apresentando-se, de certa maneira, como o lugar de reunião. É neste sentido que, embora tenhamos nos demorado em cada movimento, estes nunca se fizeram estanques em suas limitações composicionais. Ao contrário, nos dimensionaram numa postura de escuta atenciosa para que pudéssemos ser a própria vigência do poema em nossa leitura.
No verso 25º, temos: A língua é uma canção. A canção é a música enquanto doação do silêncio, pois dele se origina para a ele retornar. E isso o poema já concebe nos versos que morre / se não lhe conheces o refrão, uma vez que conhecer o refrão é se apropriar do que desde sempre já se possuía. Assim, eclode o destino como acontecer do homem em sua experienciação. Pois, ao contrário da acepção comum do destino, que diz o cerceamento da liberdade do homem ao trilhar um caminho previamente estabelecido, ele (destino) se deflagra como o sendo do homem no instante de sua vivência ontológica rumo à plenitude da morte. Mas, e quanto ao (...) se (...) presente no verso acima destacado?
O se que o poema traz nos lança na tensão própria de um constante retorno ao original. É o movimento que diz o principiar quando este congrega em si a desenvoltura da consumação contínua e ambígua (arché / telos). Assim sendo, é necessário que conheçamos o refrão do nosso canto, que estejamos em escuta atenta ao que somos. É fundamental que estejamos imersos no movimento cíclico de retorno à essência do que nos é íntimo, por isso o poema nos diz para sempre e incessantemente recomeçarmos: se não lhe dás a volta / e recomeças. Este recomeço parte sempre de um silêncio, colocando-nos na disponibilidade do que se dispõe como novo, como essencialmente Livre.
É sendo Livre na assunção de seu caminho como vereda singular que o homem canta a língua, posto que ela seja uma canção que o percorre e o toma levemente, como vemos no verso que assobias. Então, é no dialogar e na clareza esvoaçante do êxtase, do páthos enquanto delírio que língua, poeta e poesia se dão pro-miscuamente. Aqui devemos nos desvencilhar da acepção popular de tal palavra e nos deixar atravessar por seu dizer etimológico, isto é, do latim miscere (que diz, entre outros significados, misturar, reunir, con-fundir), temos a não-divisibilidade entre os mesmos (língua, poeta e poesia) na culminância poético-antropofágica de um dar-se uno na complexidade dos múltiplos. De outro modo, é no ofertar da linguagem que a língua eclode no homem e este a realiza concretamente.
Interessante notar que os últimos versos deste movimento retomam o diálogo na forma verbal, ou seja, os verbos em segunda pessoa sugerem um interlocutor, alguém que participe a língua não como possibilitador da mesma, mas como acontecência dialógica da entridade que é ser. Ou seja, somos seres-do-entre na medida em que radicalizamos o acontecimento poético-apropriante de viver mortalmente, ambiguamente e circularmente. E é assim que se desenvolve todo o poema, dando voltas numa dinâmica que evidencia a impossibilidade do cerceamento lingüístico em regras ou convenções gramaticais. Não é homem que possui a linguagem, mas, ao contrário, é completamente possuído por ela, manifestando-se na língua. É nesta infinita circularidade poética que o poema vocifera o homem na liminaridade do entre-habitar musical que é a poesia, ou seja, a ação originária e pro-míscua de ser.
A língua é dita no poema de maneira simples e primordial. É necessário somente que estejamos dispostos a ouvi-la e a acolhê-la na medida em que ela se oferece sem artifícios, nua, / irreverente. Com ela, temos uma relação de extrema intimidade, incestuosa. Para cantá-la, antes é necessário que ela esteja em nós. E isto já acontece, uma vez que só falamos porque primeiro somos o próprio canto. Como nos diz o último verso: (...) e tua, a língua não está exterior a nós, mas em plena vigência enquanto algo fundamentalmente nosso. Por isso, devoramo-nos mutuamente na orgia incestuosa da palavra.
[1] “Auscultando não a mim, mas o logos é sábio concordar que tudo é um”. Fragmento 50 de Heráclito.
[2] Mais uma vez, o fragmento 50 de Heráclito.

Referências bibliográficas

ANAXIMANDRO, PARMÊNIDES E HERÁCLITO. Os pensadores originários. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão e Sérgio Wrublewski. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991.
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1975.
HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Márcia Sá Cavalcante Schuback. 3ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
HOUAISS, Antônio. Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0. Editora Objetiva Ltda, 2001.
LEMOS, Virgílio de. Negra Azul: retratos antigos de Lourenço Marques de um poeta barroco, 1944-1963. Maputo: Instituto Camões – Centro Cultural Português, 1999.
PEREIRA, S. J. Isidro. Dicionário Grego-Português e Português-Grego. 4ª ed. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1969.
ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática Normativa da língua portuguesa. 34ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.

23 de outubro de 2008

Olhos

Entreabertos,
os olhos sonham a realidade.
As cenas líquidas repousadas em pálpebras dormentes
piscam gotas de orvalho luminoso.

Raptados da claridade do sono,

imagens,
mosaicos,

e

dúvidas

turvam o plasmar do acerto.

Porém,

deitado em nuvens brandas,
o dia se repete sempre novo
e encontra o susto da turbulência.

São dedos, mãos e pés
que se descobrem na repetição dos gestos,
na caridade do surto,
no apelo da queda.