30 de abril de 2011

Poesia

Será que consigo te seduzir
a tomar posse do teu nome,
a ser rastilho junto com teus pés,
a ser o ouvido que recolhe o pranto de teu assobio?

Será que consigo te levar ao nada,
ao lugar de todos os cantos,
te conduzir ao repouso fecundo de vozes?

Será que te sujo com silêncio,
que te permaneço leve e inconstante
que te retiro da palavra viciada?

Levo ao teu corpo o que não sou,
te encho de dúvidas e canção!
Sou música no trecho mudo da fala
e escuta na surdez ambígua da audição,

poesia,
música
e dança,

obra inacabada
em reinvenções brincadas,
rascunho de sombras
e escombro de gestos,

aflição dolorosa de um verso
que teima em jorrar da linguagem
sua música de entremargens,
sua pintura de cores incriadas.

O ato de seu rabisco é explosão de vida,
morte encenando luz,
cores
e
recolhimento,

raiz que procura terra
e dela emana ramificações urânicas
num apelo de fundo e vazio,
aurora e crepúsculo.

Minha canção te percorre inteira,
meu gosto te sopra a boca
e te arrepia os pelos.

Sou inspiração e morte,
vida e salto
no abismo de si mesmo,
na queda que te aprofunda em versos e música,
que te desfaz ver o mundo
ou que te faz desver a realidade.

Enceno em teus olhos o reflexo de sua imagem.
Sou espelho quebrado em cacos,
fontes de tudo que é todo e reluzente,
fagulha de corpo na ponta do toque,
no inesperado do estalo
que dorme em pele e sol,
estrelas e céu,
suor e terra:

meu corpo é todo inteiro,
todo universo,
todo repouso.