10 de junho de 2012

A voz da linguagem


Ambiguidade é meu nome e minha sina é ser inconstância, ser a saliva do vento ao encostar no corpo da menina correndo, o arrepio no pé da letra quando um poeta se palavra em versos; ser a linguagem: isso que é o que não se pode dizer por não haver gestual que concentre sua cara.
Um rosto de várias faces, uma deformidade que nenhuma coerência retém em seu apelo pela lógica. Uma aparência vestida de nuances, de cores iridescentes, tons e sopros de um mosaico sempre por nascer... sempre nascendo... e morrendo, mostrando-se pela primeira vez em todo instante.
Instante: esse fugidio estado das coisas. Nada é para sempre, porém tudo é sempre eterno na medida da realização do nada. Uma coisa de sabores imberbes, em estado de baque, de espanto contínuo... pois isso é saber (se) enxergar, ou seja, espantar com tudo que toca a tez da visão, pois tudo é sempre novo na medida de sua derrocada, de sua morte.
Enxergar-se é ser o que se é: sou a medida daquilo que não toco, sou o nada no berço de sua emergência, dando-se em todas as coisas. O nada: a condição para o que está por nascer, para o que nasce a todo tempo, e não deixa de morrer. Morre-se já na possibilidade de existência. A morte e o nascimento são o mesmo, mas com roupas diferentes. Dão-se as mãos ao mesmo tempo que estão na mesma pele. Compactuam do ritual de eternização da efemeridade do existir.
Sou tempo nevrálgico, a palavra pura em estado de sujeira, a poesia que dá impulso de redenção ao imprevisto. O som do silêncio mediante sua pausa na duração de uma letra. As palavras são assim formadas: um pouco do resquício de mundo no que ele tem de aparição: uma pausa na qual se proferem as filhas da linguagem, as musas da indiscernibilidade: a voz da linguagem: mãe e filhas na duração de um mesmo instante.