8 de maio de 2014

Insight

Corpo não serve só para ficar nu.
Muita gente não entende porra nenhuma...
ou quase nada...
ou muito do mesmo.
Às vezes,
sou uma delas,
e nos (des)entendemos.

Se as primeiras imagens que vierem à minha cabeça
quando eu pensar em corpo forem

buceta,
pau,
sexo,

então ainda não cheguei
ao estatuto de pele.

1 de maio de 2014

I Simpósio Internacional de Filosofia Pop

Entre os dias 7 e 9 de maio de 2014, acontecerá na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO o I Simpósio Internacional de Filosofia Pop – Corpos, Imagens e Culturas Híbridas, e no dia 8 (quinta-feira), a partir das 16h, participarei desse evento com a comunicação “Poesia: alucinação poética da palavra”. Abaixo, segue o resumo do meu trabalho. Estão todos convidados!

POESIA: ALUCINAÇÃO POÉTICA DA PALAVRA

A partir da epígrafe “Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina” – verso que integra a primeira parte do poema “Seis ou treze coisas que eu aprendi sozinho”, de Manoel de Barros (2010, p. 257) –, partiremos para um percurso no qual tentaremos escutar o sentido poético das palavras, tendo como principal referência os poemas do poeta citado. Isso posto, enfocaremos na tensão entre a palavra acostumada a seu arcabouço dicionarizado e a revisitada pela imersão poética de se pensar em declive de escombros. Provocaremos o sentido “normal” das palavras no intuito de incitar sua corporeidade poética, dialogando ainda com a habitação verbal do humano. Assim, a poesia não será abordada como construção artística, tampouco confundida com poema, e sim aproximada de seu vigor originário: poíesis. Portanto, ao trazermos a ideia íntima, originária, de sua manifestação a partir do que em grego diz a movimentação do que surge e se eleva por si mesma – quando a phýsis é considerada a máxima poíesis, conforme podemos ler no ensaio “A questão de técnica”, de Martin Heidegger (Cf. 2001, p.16) –, teremos como divergir do patamar empoeirado das estéticas ruminantes de conceitos, a fim de nos deixar cair numa procura pela palavra descabida de normalidade. E nessa empreitada inevitavelmente passaremos pela tensão entre homem e poeta.
Considerando o exposto acima, poesia, filosofia, literatura darão as mãos num caminho que se fará dialogante com os estudos tradicionais, porém com ênfase primordial na hermenêutica poética, observando a leitura que faremos de poemas de Manoel de Barros e/ou outros poetas que se fizerem necessários no decurso de nossa escrita.
Retomando a epígrafe citada, cremos que a única maneira de se enfrentar um poema é estando alucinado!  E é este mesmo o verbo a ser usado: enfrentar. No entanto, tratamos de um enfrentamento no sentido de disputa, na qual a vigência da tensão provedora da realidade se dá. Mas não me refiro a qualquer disputa, e sim, por exemplo, à que Heráclito de Éfeso traz em seu fragmento 53, quando menciona a guerra, do grego polemós: “De todas as coisas, a guerra é pai, de todas as coisas é senhor; a uns mostrou deuses, a outros, homens; de uns fez escravos, de outros, livres” (1980, p. 83).
Estamos em disputa todo o tempo, afinal somos o exercício tensional entre morte e vida durante a arquitetura dos instantes em que vivemos. E poesia, conforme já nos referimos a seu sentido mais íntimo, poíesis, diz essa movimentação. É o que deflagra a singular morada do homem no interior de si mesmo, melhor, no crepúsculo onde real, realidade e realização se intimizam pela costura de suas fendas.
Insistimos em nossa existência e, por isso, reiteramos a procissão límbica de nossos pés aos sermos conduzidos sempre ao instante anterior de uma palavra ser despida por nossa boca. E como diz Heráclito, lembrando do fragmento supramencionado, estamos sempre em guerra, em disputa, num meio do caminho para todas as coisas, inclusive para nós mesmos. Então, o que propomos neste momento? Que pensemos um pouco nossa habitação poética, nossa condição errante de ser um infindo rascunho de poema. Portanto, trataremos do sentido poético da palavra, quando ela se nega a permanecer na castidade dos rótulos empoeirados para saltar no abismo da humanidade, cujo salto se refere à disputa, à liminaridade de sermos o acontecimento do “entre-ser”, talvez até em sermos um poema acontecendo, sendo escrito na permanência paradoxal de nossos dias.

Referências bibliográficas

BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.
HEIDEGGER, Martin. “A questão da técnica”. In: Ensaios e conferências. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

HERÁCLITO. Fragmentos: Origem do pensamento. Tradução, introdução e notas de Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1980.