20 de fevereiro de 2007

Folias poéticas de um carnaval noturno*

No carnaval dos paradoxos, as sombras iluminam os cantos e as esquinas do pensamento. Turvam alvas ingenuidades e prevalecem celebrando a infinitude. Por vieses tortos, a escrita se limita ao corpo trancado: organismo dilacerado em desejos inconclusos e cacográficos!

No fim, dá-se o início! E só assim podem caminhar as sombras da poesia perdida à luz do poetar-pensante. Noutras palavras, criar é se desvelar, é sair do oculto e, sempre permanecendo, ser o acontecimento da verdade. Posto que esta é o que se revela em realidade, tensionando com o que se vela em realizações.

O homem é o uno que se desdiz em cada sopro, que se identifica com a efemeridade de um sorriso decadente ao perder sua, então, suposta unicidade. Contudo, não é a unicidade que é perdida, pois só se perde o que se retira e abstrai. Logo, o homem não abstrai seu ser: é homem em cada parte do seu corpo e em cada memória que se diz tanto reminiscência quanto realidade. O que se perde é, exatamente, aquilo que lhe foi presenteado pelo acaso, pelo rebaixamento racionalista do pensamento que diz o ser-homem ser construído socialmente.

As favelas da criação são fantasias forjadas na desilusão da canção perdida em assobios andarilhos. Cada nota é vento que rubra o contorno da percepção e volta à procura da harmonia, perfazendo-se em blocos de virtuais discussões e pessoas re-feitas por arranjos byticos. O carnaval ambíguo, feito de luz e sombras, a todos toma imperceptivelmente na medida em que os poetas se guardam em ilusões colombinas e se mostram no despertar epifânico do canto, da dança e da memória.

A pro-cura é primordial! O retorno (sempre esperado e presente) norteia todos, independente da vontade. A sobriedade do sombrio é o sagrado nas folhas de papel jogadas no lixo. Folhas estas que se metamorfosearam em telas iluminadas e recheadas de pixels que não dão espaço para o respirar, talvez para o transpirar, mas este já digitalmente composto. Os poemas rasgados na lixeira são restos de cansaço, mosaicos de pensamentos tensos, de movimentos furiosos. Tal receptáculo monturo é o continente privilegiado das sobras de elucubrações pífias ou modernamente não aceitas. No entanto, é necessário se ter cuidado e escutar! Auscultar com o ouvido quase penetrando a folha de papel amassado, pois ali está a vida! Ali repousa os caminhos que não encontraram seu “objetivo estético”, ali está a precocidade da não-escuta e o voraz ajuizamento comumente necessário ao descuidado trato poético vigente na modernidade dos suportes (entendamos suporte como o meio pelo qual algo é veiculado e a esse veículo é dada importância desmedida a ponto de se confundir conteúdo com continente em termos de importância essencial).

Ao contrário do que se pensa, poetar é tão simples e natural quanto viver! Pois poesia é vida acontecendo, é aperto de mãos e abraço no amigo querido, é o gorjear dos pássaros nas árvores, é a morte plena trazendo a novidade: doação para a vida, é o horizonte que nos contém e nos aponta as possibilidades. Poesia é ação de estar vivo, é poiesis! Não permite erros: é o próprio erro, quando este transcende mera adjetivação ou oposição metafísica (erro X acerto) e se diz percorrer. Daí que percorrer é se lançar na ambigüidade do caminho e experienciar os não-limites do percurso.

Enfim, criar um poema é a certeza de que toda gama conceitual que nos encobre de normatizações foi desfeita e jogada no limbo da inconseqüência. Criar um poema é poetar livremente, quando somos mundo em acontecimento e nos realizamos como vida!

*Em agradecimento aos "sombrios" e "titânicos" papos carnavalescos.

11 de fevereiro de 2007

Sinos mnemônicos da antropofagia digital

...a memória me traz os acontecimentos. Melhor: joga-me neles ao mesmo tempo em que me faz acontecer como memorável. Se memória é sentido, aponta um caminho numa dinâmica que é também o próprio caminho...
Lembra-se daquela igreja? Sim, seus sinos ainda são pontuais. Cada badalar ecoa, num instante, as reminiscências de uma dimensão extra. Contudo, sou poeta. Sou a história acontecendo, sou a linguagem em pleno vigor, sou música e musical. Então, o tal instante insta, para, no mesmo momento, deixar de existir como lembrança sob a égide da aniquilação.
As reminiscências extrapolam o lugar do conceito e se abrem mnemonicamente (Mnemósine). É memória viva desde sempre presente. É a possibilidade de todo possibilitar.
Os sinos deixam o altar e se sacralizam no próprio infinito. Mas não se sacralizam como num mecanismo de antes e depois, ou seja, não se configura uma situação em que antes não eram para depois passarem a ser sagrados. Portanto, já desde sempre o são. O que houve foi a destruição da escada após cada degrau alcançado. Daí, os sinos continuam a bater independente de qualquer antropofagia: high-tech... high-tech... high-tech...

High-tech

Na travessia do que vejo,
ao fechar os olhos
o bocejo da musa
sussurra o absurdo do nada.

O dizer que se fala calado
escuta o grito do coma espiritual
dos que repousam a cética liturgia
na hipermodalidade do desigual reflexo

Um toque.
Um clique.
A máquina da evolução
trava o andamento do espanto
ao cerrar a imaginação de outrora.

Fábio Santana

Minha página pessoal no Blocos Online

Isso mesmo!! Como menciona o título deste post, agora tenho uma página no Blocos Online. Para quem não conhece, o Blocos é um dos sites mais importantes no que diz respeito à divulgação cultural de nosso país. Como está escrito em sua página inicial: "Blocos é considerado um dos sites mais importantes do mundo pela UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization."
Vale a pena acessar e conferir o material disponível no site em questão e, para facilitar, este é o link da minha página: http://www.blocosonline.com.br/literatura/autor_poesia.php?id_autor=3277&flag=nacional