dez de julho de 2017. hoje a manhã foi
para se descabelar. hoje a ordem foi perder o eixo dos penteados rijos, quebrar
o sentido farto de mesmices. hoje estivemos juntos – poetas, músicos, pessoas
de almas largas – numa manhã que celebrou a diversidade, a arte, o apropriar-se
daquilo que inevitavelmente somos. hoje um início para outros devires, outros
cantares, outros sonhares floresceu, pois é o que acontece quando aqueles que
acreditam em poesia, que percebem o mundo – para além dos rígidos ditames conceituais
– se reúnem. hoje o paradoxo ganhou vez. assim: de dentro do instituto
municipal nise da silveira – cujas paredes são cheias de dores, cujas celas
ainda guardam cenas de horrores, cujas pesadas lembranças ainda se encarceram
no cinza das paredes – a rádio revolução fm provocou luzes, aqueceu o cinza num
luzir iridescente quando, ao se iniciar o programa Os Descabelados, um novo
mundo se ergueu. no espaço de uma pequena salinha, os limites físicos se
redimensionaram para além: celebrou-se a vida, o afeto, as trocas, o diálogo;
fomentou-se amores, alargaram-se horizontes para o inesperado de um trançado de
palavras, estas que nasceram – e continuam nascendo – carregadas de porvir.
claro, isso tudo hoje foi possível porque um dia uma mulher acreditou que a
realidade é muito mais do que isso que se vê no rente dos olhos. nise da
silveira deixou um legado que ainda se cumpre, que se espraia no peito
acolhedor de abraços onde o sentido do real como aquilo que incessantemente
nasce e provoca realidades é insistentemente revisto, renascido, revivido.
então, só me resta agradecer aos queridos kátia pires chagas e bruno black pelo
trabalho colossal que realizam e por darem continuidade a esse patrimônio
humano plantado em solo há algum tempo tido como infértil, contudo, que mesmo
aos trancos e barrancos vêm mostrando desde o trabalho da nise que a
fertilidade está no olhar de quem se doa à própria queda. só posso agradecer
pelo convite a mim feito de poder viver essa experiência mágica numa manhã de
segunda-feira com tantos outros corações repletos de infinitudes. um trabalho
como esses não é fácil. mas se
continuar a ser feito com a imensidão da força que eles têm – kátia, bruno e
quem mais for responsável por botar o programa no ar –, não há dúvidas de que
naquele espaço o mundo sempre se renovará pela alegria do que não se pode tocar
ou mensurar, mas que aquece a alma de quem se lança ao sentido abismal de ser.
sejamos! gratidão!
para quem quiser assistir o que rolou na rádio, é só clicar nos links para a ENTREVISTA SOBRE MEU LIVRO e para o PROGRAMA NA ÍNTEGRA
Nenhum comentário:
Postar um comentário