Em 2013 recebi um
convite: “E se você escrevesse sobre gramática a partir do poético?”. Aceitei.
Então, em 2014 saiu esse livrinho, e nele vem meu ensaio “Agramática: a
desgramaticalização a partir do poético”.
Partilho aqui um
trechinho do meu texto:
Cada canto do idioma é uma veste
gramatical, cada cor com seu tom, cada pronúncia com a minúcia de um carrossel
léxico por onde passam sonatas de sagração da linguagem. Sonatas são vestígios
sonoros de corpos musicais, cuja fala se dá na comunhão entre harmonia e
melodia de cordas em excelência canora. E assim se arremetem os enleios entre
atrito e vazio: escrita. Tudo que se escreve, escreve-se a partir de um
instante, instante este que já se foi e ao mesmo tempo será sempre póstero em
sua própria reinvenção. O que aqui se diz se impregna de ventura e de passagem,
pois se trilha um caminho inesperado. A (des)gramática, quando digo que só
existe aqui, não digo por presunção, e sim por assunção de algo que se instala
à medida de singular consumação. A força que ora vige tem sua morada no
poético. Eis o único modo, o mais digno e sincero, de se palavrar em verbo o
aceno da poesia no berço, na originariedade, de sua imanência, de sua
permanência enquanto o sempre-a-ser-dito de um acontecer, do não dito de
qualquer dizer. É nesse sentido que afirmo empreender aqui uma desgramática,
uma gramática legítima da instabilidade do tempo, da imprevisibilidade do
porvir. (pp. 210-11)
Referência
PESSANHA, Fábio Santana. “Agramática: a desgramaticalização a partir do poético”. In: CASTRO,
Manuel Antônio; FAGUNDES, Igor; FERRAZ, Antônio Máximo (orgs.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 2014.
2 comentários:
Oi Fabio, me encontrei com um comentario teu em meu blog. As vezes penso que ninguém lê essas nossas agramaticas do dizer poético, mas por lá vc passou e cá estou passeando pelas suas escrevinhanças. Que bom esses encontros! Reorganizei o blog,e alterei o nome da página,então talvez vc não se lembre. Mas deixei o link aí. Vou seguir o teu. Um abraço do imprevisível!
Olá, Patrícia! Não lembrava mesmo, mas quando li lembrei... Realmente, essas escritas aos avessos que se encontram nos contrários devem ser celebradas, mesmo que com um um pequeno e único confete perdido num verso... que nunca é apenas um pequeno e único confete, nunca apenas um verso... nunca um apenas... Segue sim, se quiser outros canais, está tudo aí pelo blog... Abraço e espero que a gente se esbarre por esses espaços palavrais!
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