Da série “olha aí meu livrinho”, convido os leitores para minha imersão palavral:
“A palavra não se detém em cabrestos gramaticais,
os quais tentam registrar com normas a insurgência de assonâncias sintáticas e
coerências. A palavra não tem coerência, o que tem coerência é o que se diz
sobre a palavra, mas o que se diz sobre a palavra se afunda no seu próprio
enunciado, pois quando um morfema aparece para reter o sentido nevrálgico de
uma sílaba, a palavra – menina travessa com pés descalços e cabelos ornamentados
com flores – se liberta do jugo semântico-sintático para fundar um novo nome,
um novo sentido, um novo chão para pisar e fazer traquinagens. A palavra é
travessa por natureza, rumina inconstâncias, tange com mel o labor sinestésico
de uma escrita, é fugaz, contraditória, avessa a fórmulas e dicionários. A
palavra é a liberdade se dando ao vento, fazendo-se onda no mar, salto sem
paraquedas no fundo do céu.” (p. 234)
PESSANHA, Fábio Santana. A hermenêutica do mar: um estudo sobre a
poética de Virgílio de Lemos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013.
2 comentários:
Belíssima passagem... estou gostando muito de ler seu livro! :)
Que bom, Flávia... é o meu corpo palavral...
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