"O grito mineral da carne é o clamor da terra embebida de sangue e cravada de pele, da pele da história de quem suou e remexeu o chão nas culturas, de quem pisou e deixou suas pegadas na memória telúrica, de quem morreu e teve sua vida renascida nos frutos da colheita. Colher é ser histórico na medida em que não há revisita a fatos passados, e sim acolhimento daquilo que se apresenta no ato de uma experiência. Afundar as mãos na terra não é olhar para trás e imergir em recordações, mas trazer para a presença aquilo que se dá no exato momento de sua evocação, e esta é nossa relação com um poema: de presença. Memória é fundamentalmente presença do que se vela." (p. 107)
O trecho acima é parte da interpretação que fiz do poema “Ouamisi”, que segue abaixo:
quem te confere teu ar de canto singular?
Será que o mistério vem mais da luz iridescente
que de tua alma errante em busca da vertigem?
Etiópia Sudão Novo Mundo e Extremo Oriente
escravos e canelas, baixelas de prata bordados.
Será que posso falar de omnipresente osmose
entre o sagrado e o grito mineral da carne?
Efebos e mulheres, conquistadores e naus
entre o simulacro de uns, de outros a firmeza,
neste santuário de almas, a génese irrompe
como se o génio da memória e da paisagem
se beijassem na imediatez do que reclamo
e do oceano imprevisível, nascesses tu, ilha.
(Virgílio de Lemos, do livro Para fazer um mar, de 2001)
Então, pessoas, quem quiser um exemplar do meu livro, é só entrar em contato, e a gente combina!
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