No dia 27 de novembro agora, sairá em Maputo (Moçambique) o novíssimo livro de Virgílio de Lemos, intitulado A invenção das ilhas – antologia de Virgílio de Lemos. Com organização, posfácio e revisão de António Cabrita (poeta, autor de contos, crítico de cinema e de literatura) a antologia será publicada pela Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa.
Segundo o próprio Virgílio, esta obra trará poemas inéditos que não constam do livro Eroticus moçambicanus (1999), organizado por Carmen Tindó. A importância deste último foi a de apresentar ao Brasil a poética virgiliana, evidenciando a grandiosidade de versos que reúnem em sua musicalidade e inaugurabilidade uma alquimia de imagens, sons e cheiros próprios. É o que vemos, por exemplo, no poema:
A tragédia e a língua
(Ao Luiz de Camões e ao Fernando Pessoa)
Fora ou dentro, a língua é luz
da alma, sendo seu próprio corpo
vegetal. Na folha em branco
passeia-se o nada recriado.
Sol, sendo luar, no desvelar reside
o segredo do criar, e na paleta
esquecida, vive ainda o morto,
duplo mergulho no texto e na deriva.
E é face ao mesmo mar de teus anseios
que neste outro olhar recrio o gesto
e reconcilio a tragédia e a língua.
(Do livro Eroticus Moçambicanus, pp. 67-8)
Agora é esperar que A invenção das ilhas saia o mais rápido possível também aqui no Brasil e que sejamos presenteados tão logo com uma provável imensidão poética de vertigem e caos.
Enquanto isso, adianto aos amigos leitores o texto da quarta capa do livro:
Virgílio de Lemos, poeta, antropólogo e jornalista moçambicano nasceu em 1929 na ilha de Ibo.
Impulsionador do movimento literário moçambicano nas décadas de 40 e 50, foi um dos criadores da folha-de-poesia Msaho (contemporânea do movimento Négritude de Césaire e Senghor), que procurou enaltecer as culturas locais e criar uma poética moçambicana, em ruptura com os modelos literários impostos pela colonização.
Absolvido de um processo judicial por crime de desrespeito à bandeira portuguesa, devido a um verso escrito em 1954 pelo heterônimo Duarte Galvão. Virgílio de Lemos exilou-se, e em 1963 passou a viver e a trabalhar em Paris, onde foi um conceituado jornalista de televisão e rádio.
Destacam-se, na sua obra, escrita tanto em português como em francês, Poemas do tempo presente (1960), obra apreendida pela PIDE, L’Obscene Pensée d’Alice, Ilha de Moçambique: a língua é o exílio do que sonhas, Negra Azul, Eroticus moçambicanus, Para Fazer um Mar, L'Aveugle et l'Absurde, La saignée de l'indicible e L'Écart du temps.
Sendo um dos vanguardistas da lírica moçambicana e defensor do conceito do “barroco-estético” para as literaturas de língua portuguesa, tem uma escrita poética fragmentária, sintética, eivada de imagens surrealistas, e duma dimensão cósmica, perpassada pelo onirismo, as problemáticas existenciais e o erotismo; que nunca descura a fidelidade aos homens e o seu testemunho.
Um comentário:
Oh, recebi seu e-mail sobre a atualização do seu blog e vim conferir.
Parabéns meu amigo,seu blog tem personalidade!
Grande BjOoO
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