No carnaval dos paradoxos, as sombras iluminam os cantos e as esquinas do pensamento. Turvam alvas ingenuidades e prevalecem celebrando a infinitude. Por vieses tortos, a escrita se limita ao corpo trancado: organismo dilacerado em desejos inconclusos e cacográficos!
No fim, dá-se o início! E só assim podem caminhar as sombras da poesia perdida à luz do poetar-pensante. Noutras palavras, criar é se desvelar, é sair do oculto e, sempre permanecendo, ser o acontecimento da verdade. Posto que esta é o que se revela em realidade, tensionando com o que se vela em realizações.
O homem é o uno que se desdiz em cada sopro, que se identifica com a efemeridade de um sorriso decadente ao perder sua, então, suposta unicidade. Contudo, não é a unicidade que é perdida, pois só se perde o que se retira e abstrai. Logo, o homem não abstrai seu ser: é homem em cada parte do seu corpo e em cada memória que se diz tanto reminiscência quanto realidade. O que se perde é, exatamente, aquilo que lhe foi presenteado pelo acaso, pelo rebaixamento racionalista do pensamento que diz o ser-homem ser construído socialmente.
As favelas da criação são fantasias forjadas na desilusão da canção perdida em assobios andarilhos. Cada nota é vento que rubra o contorno da percepção e volta à procura da harmonia, perfazendo-se em blocos de virtuais discussões e pessoas re-feitas por arranjos byticos. O carnaval ambíguo, feito de luz e sombras, a todos toma imperceptivelmente na medida em que os poetas se guardam em ilusões colombinas e se mostram no despertar epifânico do canto, da dança e da memória.
A pro-cura é primordial! O retorno (sempre esperado e presente) norteia todos, independente da vontade. A sobriedade do sombrio é o sagrado nas folhas de papel jogadas no lixo. Folhas estas que se metamorfosearam em telas iluminadas e recheadas de pixels que não dão espaço para o respirar, talvez para o transpirar, mas este já digitalmente composto. Os poemas rasgados na lixeira são restos de cansaço, mosaicos de pensamentos tensos, de movimentos furiosos. Tal receptáculo monturo é o continente privilegiado das sobras de elucubrações pífias ou modernamente não aceitas. No entanto, é necessário se ter cuidado e escutar! Auscultar com o ouvido quase penetrando a folha de papel amassado, pois ali está a vida! Ali repousa os caminhos que não encontraram seu “objetivo estético”, ali está a precocidade da não-escuta e o voraz ajuizamento comumente necessário ao descuidado trato poético vigente na modernidade dos suportes (entendamos suporte como o meio pelo qual algo é veiculado e a esse veículo é dada importância desmedida a ponto de se confundir conteúdo com continente em termos de importância essencial).
Ao contrário do que se pensa, poetar é tão simples e natural quanto viver! Pois poesia é vida acontecendo, é aperto de mãos e abraço no amigo querido, é o gorjear dos pássaros nas árvores, é a morte plena trazendo a novidade: doação para a vida, é o horizonte que nos contém e nos aponta as possibilidades. Poesia é ação de estar vivo, é poiesis! Não permite erros: é o próprio erro, quando este transcende mera adjetivação ou oposição metafísica (erro X acerto) e se diz percorrer. Daí que percorrer é se lançar na ambigüidade do caminho e experienciar os não-limites do percurso.
Enfim, criar um poema é a certeza de que toda gama conceitual que nos encobre de normatizações foi desfeita e jogada no limbo da inconseqüência. Criar um poema é poetar livremente, quando somos mundo em acontecimento e nos realizamos como vida!
*Em agradecimento aos "sombrios" e "titânicos" papos carnavalescos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
tantas sombras, tantos carnavais ... a pro-cura persiste
Postar um comentário