Mais um lançamento da
Editora Tempo Brasileiro chega a público! Refiro-me ao livro O Educar Poético, organizado pelos professores Manuel Antônio de
Castro (UFRJ), Igor Fagundes (UFRJ) e Antônio Máximo Ferraz (UFPA). Com o foco
na Educação Poética, onde “Poética” não se resume a um simples adjetivo, neste
livro vemos o despir-se do lugar-comum das teorias pedagógicas para o salto no
abraço do mistério que reúne o “princípio e o sentido de todas as falas, de
todas as escutas”[1]
a partir da ação originária do poético; ação esta que aponta, sinaliza, o
humano como “parte do mistério de ser”.[2]
Cogitando o educar a
partir do poético, com vistas à fertilização de possíveis modos de percepção do
sentido de educar, pensou-se numa reunião de diversos olhares para a composição
dos textos que se enlaçam nesta obra:
Os professores, os artistas, os
pensadores que aqui se reúnem em livro partem de tal horizonte: encontram-se
lançados no livre-aberto, conduzidos pelo aberto, perfazendo a existência como
esta poética educação. Antes verbo do que substantivo, antes ação (questão!) do
que definição (conceito!), educar será toda palavra, corpo, rosto, sentido,
destino que se reconheça mistério. Em liberdade.[3]
Contudo nenhuma
formulação é criada, nenhum emblema é cunhando para fins de aplicabilidade
teórica do que seja a educação. Não há receitas para professores ou
profissionais de ensino, e sim a disposição à assunção de um vasto enigma, de um
desafio a ser explorado pelo pensar, pela recondução do olhar do educador para
si e, consequentemente, para o seu outro na condição de aluno:
Aos que ansiosamente aguardam uma
decifração do enigma, seja o do aprender, seja o do ensinar; aos que confiam na
sorte de encontrar por estes mundos de página uma nova cartilha, um novo modelo
de ensino, respondemos com as peripécias e vicissitudes que atravessam o caminho
meditativo das possibilidades. De cada um, intransferíveis, irrepetíveis,
sempre singulares, as descobertas. Sobretudo, a descoberta do encobrimento
permanente e imediato de si e das coisas todas. Em meio a esses desvelos e
véus, o vir a ser mestre e o vir a ser aprendiz se alternam e se confundem nas
encruzilhadas inesperadas do humano: pode ensinar apenas quem aprendeu e quem
ainda aprende no instante em que ensina. E isso quer dizer: quem desaprende,
aprendendo.[4]
Neste livro, participo
com o ensaio “Agramática: a
desgramaticalização no educar para o poético”, no qual tento pensar a gramática para além do reduzido e ceifador sentido normativo que há muito tempo nos reprime
verbalmente. Se tivermos cuidadosa escuta e não nos deixarmos levar pelas
retóricas vigentes do cotidiano, seja acadêmico ou das esquinas de nossas ruas,
acredito que a gramática – que nos dá margens para pensarmos a agramática,
conforme nos diz um poema de Manoel de Barros,[5] ou
simplesmente a desgramática – é uma possibilidade de salto para o infinito do
poético, quando nos valemos, melhor, nos apropriamos de nossa língua para com
ela nos absurdarmos:
A gramática em sua
desgramaticalização é um salto na profundidade verbal de ser tudo que se diz na
vigência do não-dito. E pela pintura divina da escrita, devemos crer que o
mundo se arremete em dores quando a sílaba rasga o silêncio ao acolher o grifo
de uma letra. A palavra, em seu conjunto verbo-gramatical, brinca com as
criações vindouras, sendo o meio de qualquer enleio, uma vez que sua ressalva é
sempre pela alva ou também impura – visto que é gesto e sobressalto – de
molecagens sintaticais.[6]
Que todos se sintam
convidados a mergulhar nO Educar Poético,
nesse desafio de repensar a si mesmos, que consequentemente aponta para a
reinvenção do educar a partir do poético, crendo que inventar é o modo mais
radical de estar na realidade, convivendo com as diferenças que nos formam, que
nos constituem misteriosamente humanos.
Referências
CASTRO, Manuel Antônio de; FAGUNDES, Igor; FERRAZ,
Antônio Máximo (orgs.). O Educar Poético.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014.
PESSANHA, Fábio Santana. “Agramática: a desgramaticalização no educar para o poético. In:
______. O Educar Poético. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, pp. 199-216.
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