Na sexta, dia 06 de
dezembro, faleceu o poeta moçambicano Virgílio de Lemos. Pensei em escrever
algo imediatamente, mas não queria ser oportunista e nem ser mais um a encher a
internet com as mesmas informações sobre sua biografia. Contudo também não
posso ficar calado, considerando que foi com sua poética que amadureci minha
escrita...
Não nos conhecemos
pessoalmente, mas trocamos e-mails desde 2006, quando durante minha graduação
em Letras tive contato com sua poesia. Desde então, terminada a graduação e
durante o curso de mestrado em Poética (durante o qual não só me debrucei quanto
me fiz inconsequência em seus versos) pude perceber o vigor verbal de um poeta
que existe por sua poesia. Por isso, e também sabendo o quanto o Virgílio não
gostaria de melodramas (e este isso também não condiz com meu perfil), resolvi
postar esta homenagem, com qual trago a público o primeiro poema que me tirou o
chão e me lançou no meu próprio caminho.
É preciso dizer ainda
que não foi o poeta Virgílio de Lemos que morreu, e sim o ente de carne e ossos
entregue à surpreendente, inevitável e inaugural insistência de existir durante
a morte. Outra coisa importante a se dizer é que seu heterônimo Duarte Galvão
(autor do poema que trarei) apareceu para mim de forma controversa, suscitando
muito mais do que uma perspectiva de cunho social. Desde que sua poética me
tomou, enxerguei nesse heterônimo o vórtice no qual as palavras em seu sentido
comum festejam a orgia de serem verbo e criação contínua... Este não foi o
primeiro poema que li do poeta, seja ortônimo ou heterônimo, mas foi o que primeiro
me lançou em meu abismo...
Tu és fábula
Tu
és fábula
explosiva
e
realidade
limite
entre a gula
e
o vômito
entre
a volúpia
e
a náusea
do
verbo.
Tu
és abstracto
respeito
voo
de
metáforas
intestinais
de
música e morte.
Tu
és reflexão
artífice
de
suspensos
concêntricos
enigmas
de medo
masturbados
sublimados
gemidos
de guerra
nos
teus olhos
suicidas.
(Duarte
Galvão, 1962)
Nenhum comentário:
Postar um comentário