19 de dezembro de 2013

Homenagem ao poeta Virgílio de Lemos

Na sexta, dia 06 de dezembro, faleceu o poeta moçambicano Virgílio de Lemos. Pensei em escrever algo imediatamente, mas não queria ser oportunista e nem ser mais um a encher a internet com as mesmas informações sobre sua biografia. Contudo também não posso ficar calado, considerando que foi com sua poética que amadureci minha escrita...
Não nos conhecemos pessoalmente, mas trocamos e-mails desde 2006, quando durante minha graduação em Letras tive contato com sua poesia. Desde então, terminada a graduação e durante o curso de mestrado em Poética (durante o qual não só me debrucei quanto me fiz inconsequência em seus versos) pude perceber o vigor verbal de um poeta que existe por sua poesia. Por isso, e também sabendo o quanto o Virgílio não gostaria de melodramas (e este isso também não condiz com meu perfil), resolvi postar esta homenagem, com qual trago a público o primeiro poema que me tirou o chão e me lançou no meu próprio caminho.
É preciso dizer ainda que não foi o poeta Virgílio de Lemos que morreu, e sim o ente de carne e ossos entregue à surpreendente, inevitável e inaugural insistência de existir durante a morte. Outra coisa importante a se dizer é que seu heterônimo Duarte Galvão (autor do poema que trarei) apareceu para mim de forma controversa, suscitando muito mais do que uma perspectiva de cunho social. Desde que sua poética me tomou, enxerguei nesse heterônimo o vórtice no qual as palavras em seu sentido comum festejam a orgia de serem verbo e criação contínua... Este não foi o primeiro poema que li do poeta, seja ortônimo ou heterônimo, mas foi o que primeiro me lançou em meu abismo...

Tu és fábula

Tu és fábula
explosiva
e realidade
limite entre a gula
e o vômito
entre a volúpia
e a náusea
do verbo.
Tu és abstracto
respeito
voo
de metáforas
intestinais
de música e morte.
Tu és reflexão
artífice
de suspensos
concêntricos
enigmas de medo
masturbados
sublimados
gemidos de guerra
nos teus olhos
suicidas.

(Duarte Galvão, 1962)

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