Um verso...
Coluna vertebral do silêncio,
amálgama que costura o horizonte de todo poeta
na soleira entre o dizer e o calar.
Sendo fino, raso, profundo, denso,
sua estrutura ressoa formal ou livremente.
Na forma, vislumbra a colheita da palavra trabalhada:
métrica, rima, música cadenciada em sopro como respiração.
Na seriedade de sua liberdade,
convoca a ilusão do deboche rijo:
espreita os passos largos de uma andança milimetricamente
[desarrumada.
Um verso acalenta a sofridão da ausência,
um verso infringe a apatia da presença;
trova na união dos contrários
a valente postura de um lancinante ponto final.
Pausa. Pulmões inflados.
E a boca derrama tudo aquilo que se queria calar em um beijo.
Um verso beija, sangra a mão de quem o possui.
Ter um verso é ter a morte rasgando a pele e dizendo a vida.
A escritura do corpo é o limiar da corporeidade poética.
O corpo é um verso sendo escrito.
2 comentários:
Como sopro divino..sua poesia resgata o caráter instaurador, aquele existente entre os bardos, rapsodos...como palavra mítico-poética, aquela que diz do que "é" e não do que parece ser. Só agora aprendo e vislumbro o "caminho da linguagem", tendo a poesia/música como senda, que meus primeiros anos de músico não permitiam ver!
Parabéns pelos versos!
Um verso talvez seja des-velar, o instante entre-o-cor-ou-des-corporificar... desfazer-se no ar enquanto se faz. Entre o que se contempla e se sente, pressinto: poesia poesia, irreversível poesia..
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