26 de março de 2018

Cinema e poesia: ocupação da palavra pela imagem



Queridxs!! Saiu a divulgação do curso "Cinema e poesia: ocupação da palavra pela imagem", que vou ministrar na Biblioteca Parque de Niterói durante os sábados de maio e o primeiro de junho! Olha aí o que vai rolar:

CRONOGRAMA:

05/05 - Encontro 1: Apresentação do curso, do método de trabalho, dos possíveis diálogos a serem realizados, das leituras complementares. Exibição de trecho do filme "Paterson", de Jim Jarmusch, para se pensar a travessia do poético no cinema e na realidade.

12/05 - Encontro 2: Exibição do filme "Ex isto", de Cao Guimarães. A seguir, a discussão “Deserto de retas onde a geometria não corre riscos mas se caga”: a imagem da palavra no silêncio do cinema entre Leminski e Descartes.

19/05 - Encontro 3: Exibição do documentário "Ervilha da Fantasia - Uma Ópera Paulo Leminskiana", de Werner Schumann. A seguir, a discussão “O inutensílio da poesia e a não justificativa do orgasmo”.

26/05 - Encontro 4: Exibição do (des)documentário "Só dez por cento é mentira", de Pedro Cezar. A seguir, a discussão “A invenção do que escrevo e a mentira do que não faço: transvisões de Manoel de Barros”.

02/06 - Encontro 5: Exibição de alguns curtas que dialoguem com a obra poética de Manoel de Barros: "Caramujo-flor", de Joel Pizzini; "A língua das coisas", uma produção de Caraminhola Filmes; "Wenceslau e a árvore do gramofone", de Adalberto Müller. A seguir a discussão “Pequenos excertos inventados numa tarde à toa”.

SEMPRE DAS 10H ÀS 13H

INVESTIMENTO:

Aulas avulsas - R$ 30 (DEPÓSITO BANCÁRIO)

Pacote com as 5 aulas - R$ 100 (valor com desconto de R$ 50)

Dúvidas? É só entrar em contato comigo ou ver mais informações no link de inscrição: http://bit.ly/2FTSZxT


Biblioteca Parque de Niterói
Praça da República s/n - Niterói - RJ
Telefone: 2722-0493

22 de fevereiro de 2018

Literatura na Varanda... um trechinho...

Pessoal, pra quem não viu ou quer ver de novo (um trechinho pelo menos), vai aí um peteleco da minha participação na 8ª edição do Literatura na Varanda! Foi um dia incrível, as participações poéticas foram espetaculares! E ainda a lindeza musical do grupo Prajna terminando o evento. Lindo demais!


10 de fevereiro de 2018

Literatura na Varanda - 8ª edição

Olha aí, gente, está chegando a 8ª edição do LITERATURA NA VARANDA, onde vou conduzir, ou melhor, serei conduzido pelas obras dos poetas MANOEL DE BARROS e PAULO LEMINSKI numa roda de conversa poética. Bora, que vai ser lindo! Anota aí as informações:

Data: 17/02 - SÁBADO
Horário: 16 horas 
Local: ESPAÇO MULTI (Av. Ernani Amaral Peixoto, 96/ 403 – Centro - Niterói)

A entrada é uma colaboração consciente livre. Cada um precifica da forma democrática que desejar.


Meus poemas na 123ª edição da revista Diversos Afins



Desenho: Raquel Piantino


Galere! Acabou de sair a 123ª edição da revista Diversos Afins, e com poemas meus, que felicidade!

Confere lá, espalha, comenta ou finge que não viu, mas se fingir, não me conta! E não deixe de ler as demais participações, que tem lá um pessoal muito do bacana! Aí a minha janela, ó:

http://diversosafins.com.br/diversos/janela-poetica-ii-59/

Vai aí embaixo uma palhinha do que está lá:

e se de repente
se repetisse
o gesto não
como uma agonia
acostumada,
mas somente aquela
pontada
aguda que segue o ritmo
inalcançável das flores?

o tempo indigno
das mãos deita sobre
a face desconhecida
do espelho. a imagem
ali nascida observa
tudo que se reflete

e vê
na repetição ardida
dos olhos
o ineditismo perdido
das rugas.

quisera eu ter mais tempo
para me jogar naquela piscina
azulejada que forma uma linha
côncava perpendicular
ao espelho imperfeito da água
e assim surpreender
meus mergulhos.

Fábio Pessanha

2 de fevereiro de 2018

Divulgação na programação cultural de Niterói




Olha aí, gente! Já saiu a programação cultural de Niterói, referente a fevereiro! E, ó, está lá a notinha sobre o Literatura na Varanda - 8ª edição (Leminski e M. de Barros), organizado pela poeta Tânia Ribeiro Roxo, no qual vou conduzir uma conversa super bacana sobre as obras dos poetas Manoel de Barros e Paulo Leminski. Agora, não tem jeito mesmo de perder, hein! Bora lá, galera!!

Ah, pra quem ficou meio perdido, tranquilo, o Espaço Multi é novo. Então, guarda aí o endereço:

Av. Ernani do Amaral Peixoto, 96, sala 403 (Edifício Borges).

É bem ali no centrão de Niterói, não tem erro!





30 de janeiro de 2018

Literatura na Varanda - 8ª edição



Galera, tive o prazer de ser convidado para conduzir um bate-papo sobre as obras dos poetas Manoel de Barros e Paulo Leminski na 8ª edição do Projeto Literatura na Varanda, que acontecerá no dia 17 de fevereiro, às 16h, no Espaço Multi, em Niterói, e é organizado pela jornalista e poeta Tânia Ribeiro Roxo. 

Vamos falar sobre palavras tortas, poemas embicados no absurdo, a velocidade do verso no estômago do poema e outros troços que a gente se permitir inventar na hora!!! 

Ah, esse encontro vai rolar no Espaço Multi, que fica na Avenida Amaral Peixoto, 96 / 403, Niterói – RJ.

Anote aí na sua agenda e vem junto, que vai ser maneiro!!


Minha participação na Programa Rio Cultural, na Rádio Rio de Janeiro (1400 AM)

No dia 17 de fevereiro, às 12h, estarei no programa Rio Cultural, da Rádio Rio de Janeiro (1400 AM), apresentado por Victor Meirelles. Lá falarei um pouco do que vai rolar mais tarde na 8ª edição do Projeto Literatura na Varanda, um bate-papo que conduzirei em torno das poéticas de Manoel de Barros e Paulo Leminski. 

No programa Rio Cultural, além dar uma palhinha do que vai rolar nessa roda de conversa poética, também apresentarei alguns dos meus poemas e conversaremos sobre poesia, claro! Será muito legal, não percam! Acessem no facebook!



A criança em ruínas, de José Luis Peixoto


A criança em ruínas, do poeta português José Luís Peixoto, é um livro de assombros, mas não um assombroso que dá medo, e sim um processo de intimização não pessoal que desencadeia envolvimentos diversos. Paradoxo? Sim, pois embora se trace poeticamente o itinerário para o arruinar-se de uma criança (ele próprio? o leitor? uma metaforização lírico-poético-filosófica sobre o eu-criança?), esta se reposiciona a cada vez que um leitor se atrever ao próprio arruinar-se. A criança se despersonaliza para além de uma infância, quando a experiência extrapola o âmbito do cronológico e do subjetivo.

30 de novembro de 2017

Pipoca e poesia marginal: uma tarde com "Cacaso na corda bamba"

Olha aí, pessoal! Quarta-feira (06/12) é dia de cinema e poesia!! Vai rolar na Biblioteca Parque de Niterói, a partir das 16h, a exibição do documentário "Cacaso na corda bamba" e logo a seguir haverá um bate-papo com os diretores do filme José Joaquim Salles, PH Souza e este poeta que vos escreve! Então, galera, prepara a pipoca e bora participar com a gente dessa conversa maneira!!

Ah, espalha aí a ideia!!! Vem junto!!



12 de novembro de 2017

Passagem do meu livro "A hermenêutica do mar - Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos"


"O grito mineral da carne é o clamor da terra embebida de sangue e cravada de pele, da pele da história de quem suou e remexeu o chão nas culturas, de quem pisou e deixou suas pegadas na memória telúrica, de quem morreu e teve sua vida renascida nos frutos da colheita. Colher é ser histórico na medida em que não há revisita a fatos passados, e sim acolhimento daquilo que se apresenta no ato de uma experiência. Afundar as mãos na terra não é olhar para trás e imergir em recordações, mas trazer para a presença aquilo que se dá no exato momento de sua evocação, e esta é nossa relação com um poema: de presença. Memória é fundamentalmente presença do que se vela." (p. 107)


O trecho acima é parte da interpretação que fiz do poema “Ouamisi”, que segue abaixo:

Será desta luz d’equinócio o manto verde azul
quem te confere teu ar de canto singular?
Será que o mistério vem mais da luz iridescente
que de tua alma errante em busca da vertigem?

Etiópia Sudão Novo Mundo e Extremo Oriente
escravos e canelas, baixelas de prata bordados.
Será que posso falar de omnipresente osmose
entre o sagrado e o grito mineral da carne?

Efebos e mulheres, conquistadores e naus
entre o simulacro de uns, de outros a firmeza,
neste santuário de almas, a génese irrompe

como se o génio da memória e da paisagem
se beijassem na imediatez do que reclamo
e do oceano imprevisível, nascesses tu, ilha. 

(Virgílio de Lemos, do livro Para fazer um mar, de 2001)


Então, pessoas, quem quiser um exemplar do meu livro, é só entrar em contato, e a gente combina!

29 de outubro de 2017

Minha participação na escamandro

Ando um pouco atrasado com as atualizações do meu blog, mas, olha aí! Antes tarde do que nunca, trago pra cá também os poemas meus que foram publicados na revista escamandro:

corpo abraça infinito
se descobre ínfimo
em tudo que é nele

em tudo que há nele
é ele de dentro a dentro:
íntimo de nascenças

***

ossos

o andor ungido a ossos
compõe procissões de joelhos ao chão
donde marcas deixadas se erguem
pelos poros pele afora

a curvatura
sina do que ante a reta se impõe
destina nos seios o desejo de bocas
retira dos becos o realejo dos sonhos
para ornar em textura óssea
os dentes da primogênita mordida


Pra quem quiser conferir a postagem na escamandro, é só chegar aqui: https://escamandro.wordpress.com/2017/09/28/fabio-pessanha/

3 de setembro de 2017

poema para um poema de ricardo domeneck


abstrai-se abstrai-se a cama
vazia abstrai-se o luto
abstrai-se o lampejo dos
seus pelos nos meus da minha
pele na sua fala-se às
escuras ama-se às avessas
moldam-se os lençóis nas curvas
de um corpo que não mais está
aqui que deixou um rastro
de presença na memória do
meu toque que acorda na fúria
de um pesadelo repentino
que deixa o dia anoitecido
nas horas de inverno abstrai-se
abstrai-se a abstenção cala
a forma fugaz da mão que afaga
a quentura vazia de um
lugar antes preenchido sente
a névoa oblíqua da presença
que um dia foi um corpo pesado
sobre o meu que um dia foi a
partilha de segredos a
olhos entreabertos pelo sono
que um dia foram as horas
de um filme interminável no
apartamento vazio abstrai-se
relevam-se os braços quando
não há mais pescoço para se
envolver as mãos quando não
há mais dedos para se enroscarem
em figuras indizíveis abstrai-se
o dia em que noites eram fuga
em que tardes eram ilhas
no meio de tantas palavras
ditas de tantas falas frias
abstrai-se abstrai-se o
firmamento das horas dos
instantes do fogo que ardia
lento durante nossas bocas
abstrai-se a lembrança de uma
abstração do que poderia
ter acontecido dos cabelos
que deixaram de amanhecer
largados em meu ombro que
não desceriam mais pelo meu
peito até o lugar em que serão
apenas um monte juntado
ao lixo abstrai-se abstrai-se
abstrai-se abstrai-se a
“celebração de tudo que é
incompleto”

fábio pessanha


18 de agosto de 2017

Rodas leminskianas de leitura poética


Galera, em setembro, vou fazer as “Rodas Leminskianas de Leitura Poética” na Biblioteca Parque de Niterói!!
Acessem o facebook para terem mais informações e se inscrever ou vão direto no link abaixo pra que a gente possa pensar e trocar umas ideias sobre poesia até ficarmos com a cara igual a do Leminski aí na foto!! Aguardo vocês!

Inscrições: http://bit.ly/2w33Y2N

6 de agosto de 2017

Paulo Leminski e as paisagens da poesia: uma leitura de "Limites ao léu"


Saiu na Revista Garrafa, nº 38, meu ensaio sobre a leitura que fiz do poema “Limites ao léu”, do Leminski! Foi um desafio transitar e costurar interpretações sobre as leituras que o poeta fez para o que seja poesia. Mas essa tentativa passa longe de uma elucidação que se pretenda determinar um conceito para poesia. É uma viagem, um salto, um mosaico que aponta para o incomensurável, para o nunca sempre quase de uma questão das mais importantes para o homem, porque o homem é um poema sempre a se escrever.

Então, quer ler todo o ensaio? Tá a fim de conhecer a galera que compõe a revista? Passa aqui, ó: http://bit.ly/2uX7JnL

29 de julho de 2017

Vassouras piaçavas a cinco reais e de pelos a seis reais


alguém por favor compre uma vassoura desse carro de vassouras com vassouras piaçavas a cinco reais e de pelos a seis reais que não sai da minha rua que não me deixa pensar em outra frase que não seja vassoura piaçava a cinco reais e de pelos a seis reais que não me deixa escrever minha tese ou decidir o que vou comer que não seja vassoura piaçava a cinco reais e de pelos a seis reais que me faz querer nunca mais varrer minha casa que me causa horror só de pensar em piaçavas e que porra é essa de piaçava que nasceu só para se fazer a vassoura do carro de vassouras que não sai da minha rua com vassouras piaçavas a cinco reais e de pelos a seis reais um dia quando eu crescer eu quero ser uma vassoura piaçava de cinco reais e se de repente eu me der bem na vida consigo chegar a uma vassoura de pelos a seis reais do carro de vassouras com vassouras piaçavas a cinco reais e de pelos a seis reais que não sai da minha rua

21 de julho de 2017

raízes


por se romper o chão desde os nervos das manhãs por se querer
um horizonte ruindo nos cabelos encrespados da melancolia por se
desejar o gosto encorpado de deus
resgatam-se as vozes guardadas no peito do silêncio por
se burlar os baques das traves em minhas costelas rejo
rumo a terra a sinfônica angular das raízes por se alimentar
o céu mais que o ventre por se beijar o rosto
das avenças numa disputa ergo
os dedos para a alvorada e desenho o cansaço
das flores nas falhas do teto por se ruminar
o vestígio dos lábios por se levar o destino dos fatos
em procissão deixo o vento lamber a força oculta das patas
enterradas no barro de onde tive moldados
meus castelos ósseos por se calarem as pedras
plantadas no refluxo do tombo por se andarem
os galhos na verticalidade do prumo
devolvo os ombros ao luto no incansável espanto
por se inventar a fuga das mãos
de onde não posso agarrar

fábio pessanha

11 de julho de 2017

Entrevista no programa Os Descabelados, na Rádio Revolução FM (Instituto Nise da Silveira)


dez de julho de 2017. hoje a manhã foi para se descabelar. hoje a ordem foi perder o eixo dos penteados rijos, quebrar o sentido farto de mesmices. hoje estivemos juntos – poetas, músicos, pessoas de almas largas – numa manhã que celebrou a diversidade, a arte, o apropriar-se daquilo que inevitavelmente somos. hoje um início para outros devires, outros cantares, outros sonhares floresceu, pois é o que acontece quando aqueles que acreditam em poesia, que percebem o mundo – para além dos rígidos ditames conceituais – se reúnem. hoje o paradoxo ganhou vez. assim: de dentro do instituto municipal nise da silveira – cujas paredes são cheias de dores, cujas celas ainda guardam cenas de horrores, cujas pesadas lembranças ainda se encarceram no cinza das paredes – a rádio revolução fm provocou luzes, aqueceu o cinza num luzir iridescente quando, ao se iniciar o programa Os Descabelados, um novo mundo se ergueu. no espaço de uma pequena salinha, os limites físicos se redimensionaram para além: celebrou-se a vida, o afeto, as trocas, o diálogo; fomentou-se amores, alargaram-se horizontes para o inesperado de um trançado de palavras, estas que nasceram – e continuam nascendo – carregadas de porvir. claro, isso tudo hoje foi possível porque um dia uma mulher acreditou que a realidade é muito mais do que isso que se vê no rente dos olhos. nise da silveira deixou um legado que ainda se cumpre, que se espraia no peito acolhedor de abraços onde o sentido do real como aquilo que incessantemente nasce e provoca realidades é insistentemente revisto, renascido, revivido. então, só me resta agradecer aos queridos kátia pires chagas e bruno black pelo trabalho colossal que realizam e por darem continuidade a esse patrimônio humano plantado em solo há algum tempo tido como infértil, contudo, que mesmo aos trancos e barrancos vêm mostrando desde o trabalho da nise que a fertilidade está no olhar de quem se doa à própria queda. só posso agradecer pelo convite a mim feito de poder viver essa experiência mágica numa manhã de segunda-feira com tantos outros corações repletos de infinitudes. um trabalho como esses não é fácil. mas se continuar a ser feito com a imensidão da força que eles têm – kátia, bruno e quem mais for responsável por botar o programa no ar –, não há dúvidas de que naquele espaço o mundo sempre se renovará pela alegria do que não se pode tocar ou mensurar, mas que aquece a alma de quem se lança ao sentido abismal de ser. sejamos! gratidão!

para quem quiser assistir o que rolou na rádio, é só clicar nos links para a ENTREVISTA SOBRE MEU LIVRO e para o PROGRAMA NA ÍNTEGRA

2 de julho de 2017

a encruzilhada é meu guia...


[voltaremos em breve... aguardem...]

fosse luz...


fosse luz o andar me deixasse atônito desde as surpresas desde o contraste o amargo leito dentre os solfejos fosse o sol em casas invadindo frestas reluzindo cantos fosse agora tão quanto nunca quente o beijo largado na boca aos domínios do hábito quando estradas dessem no intercâmbio sonoro dos braços os afagos dos fachos lunares na borda esquerda das ilhas que se dissessem o azul eu afogaria o mar em suas próprias ondas deixaria o céu repleto de janelas para em cada uma delas aportar os cotovelos e descansar o peso de noites afiveladas ao concerto acústico dos dentes durante a epifania das falas

fosse o brinde aquele lance esquálido entre seios fartos ante o gracejo amanhecido nas pontas dos dedos entre os vãos das costelas dentro da vontade de se fazer granizos na tarde em que eu desse parabéns por seus anos de vida que deus te abençoe e te guarde amém sempre não se esquecendo de perceber se as portas estão trancadas que o dia começa às cinco e meia da manhã depois de um café engolido junto ao pão esquecido na mesa recheado pela vontade de uma manteiga mais derretida

que os corações enamorados em dias de partida quando aí já não se calam os laços de despedida entre lágrimas entre raios luminosos a luz brilhando no metal do ônibus que partiu de pedaços infinitos a outros pequenos e agudos gestos com destino impresso nas costas de quem me deu o passaporte para perto do acorde dissonante embebido nas ruelas que vão da nuca à vértebra que cisma na envergadura da chegada que é sempre vã que é sempre longa a espera numa caminhada que é sempre fim que é outono lançado entre folhas entre as cascas das mansidões deixadas ao acaso em mansões onde a porta abre o osso exposto na contramão da via que é sempre queda que é a cena da moeda dada ao moribundo

fábio pessanha

Poema deixado na exposição Poesia Agora, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro


A palavra, esta marca
amarga, aquela ponte larga entre o
silêncio – o turvo enredo ao meio – e
a crise ruidosa da fala – da
grafia envenenada no papel – o
grito encrespado no vocábulo.

Palavra
de todos os nós
a que nunca desata.

Fábio Pessanha